Triste fim da Ditadorlândia

por Michel Gralha | 15/06/2020

A iniciativa privada padecerá com a covid-19 e, ainda mais, como “abre e fecha”

A história que passo a narrar seria impensada há meses, mas, infelizmente, virou realidade em um país chamado Ditadorlândia. Em fevereiro, esta nação, já acostumada com inúmeras crises, vem acompanhando os acontecimentos mundiais e os debates sobre um novo vírus. Os governantes da Ditadorlândia atentos às suas receitas e popularidade não se preocupam muito com a tal doença global e curtem, junto com seu povo, a maior festa de todas, o Carnaval.

Entra março, quando o ano finalmente se inicia, e o boato vira realidade com o registro dos primeiros casos de covid-19 no país. Descobre-se que a doença é extremamente “virulenta” e a ordem mundial é para que fiquemos em nossas residências. O povo teimoso e incrédulo não obedece. A Suprema Corte intervém e determina que os Estados e os municípios decidirão sobre a vida e a economia de suas regiões. Tal ordem é música para os ouvidos dos ditadores transvestidos de governantes que têm o prazer de exercer autoridade para colocar em prática sua tirania. São inúmeras entrevistas e “lives”. Batem no peito e, com a justificativa de proteger o cidadão, despejam ordens a seu bel-prazer. Acham razões ou até mesmo cenários futuros e incertos para justificar suas ações. Mandam abrir e fechar estabelecimentos. Criam protocolos inexequíveis. Fiscalizam e multam! Usam pesadamente a mídia para demonstrar suposta preocupação com o povo.

Antes da pandemia, milhares morriam à espera de consultas, exames e leitos; comunidades padeciam sem saneamento básico. Agora, são estrelas ditando regras. Fazendo, dos seus cidadãos, marionetes de seus estudos. Discursam: hoje você pode sair e o comércio abrir, amanhã talvez, tenho que avaliar. Como se as relações humanas e comerciais fossem simplórias e desestruturadas. Como se a economia sobrevivesse a tamanho disparate irracional.

A iniciativa privada padecerá com a covid-19 e, ainda mais, com o “abre e fecha”. Inúmeros negócios acabarão. Não há criatividade e reinvenção que alavanquem a todos. O mundo real é muito duro e não cabe no PowerPoint das lives. Infelizmente!

Michel Gralha

Fundador do escritório Zavagna Gralha Advogados, é especialista nas áreas de Direito Societário, M&A e Direito Empresarial. Após oito anos de atuação em escritórios de advocacia, foi Head do Departamento Jurídico na Lojas Renner, onde também exerceu cargos de Secretário do Conselho de Administração e do Comitê de Remuneração.
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