“Assistimos a tudo, um tanto estarrecidos com as surpresas diárias e pouco indignados, em silêncio, como presas fáceis daqueles nos quais empenhamos nosso voto”
A situação política do Brasil encontra-se, provavelmente, no momento mais conturbado da sua história. Nos estudos escolares, no futuro, certamente os episódios atuais serão capítulos inteiros, com explicações complexas e personagens marcantes. Vivemos num daqueles filmes de ação, suspense e pitadas de terror, em que o frio na barriga é permanente, com poucos e fieis mocinhos e inúmeros bandidos enroscados em uma teia de corrupção gigantesca, que surpreende pela falta de consideração com o povo e pela desenfreada ambição patrimonial dos larápios. Ainda, no meio da película, que já está em sua quinta ou sexta temporada, arrisco em afirmar, sem medo de errar, que nunca tivemos tantos políticos presos e tanta confusão parlamentar e, mesmo assim, estamos longe de conhecer o desfecho desta história. Parece que não teremos um fim e nos perguntamos, boquiabertos, como deixamos esta tragédia chegar até aqui.
Nas últimas décadas, ou talvez nos últimos séculos, fomos coniventes. Assistimos a tudo, um tanto estarrecidos com as surpresas diárias e pouco indignados, em silêncio, como presas fáceis daqueles nos quais empenhamos nosso voto. E mesmo hoje, com todas as mudanças, dependemos de heróis solitários que fazem da justiça o meio de reduzir a corrupção, investigando e prendendo aqueles que insistem em relativizar os conceitos de honestidade e, incrivelmente, ainda tendo que enfrentar a resistência de parte da população. Parte essa que, até pouco tempo atrás, falava em perseguição política, que pedia a soltura de condenados por mera identificação ideológica. A cada dia, estas pessoas estão silenciando mais. Talvez com vergonha ou porque, realmente, compreenderam que é uma questão de tempo para que todos estejam no mesmo lugar ou respondam pelos seus processos.
Quem sabe, em um futuro breve, teremos todos os temas definitivamente endereçados? Difícil, mas, com certeza, é o sonho dos cidadãos de bem. Estamos no caminho e temos que seguir sem bandidos de estimação, sem vieses ideológicos, com respeito às leis e ao direito de ampla defesa.