Culpar a população é ato ditatorial e expropriatório de responsabilidade
A virada de ano e a chegada da vacina encheu a todos de esperança. Depois de um período muito difícil, de restrições de liberdade e total despreparo dos órgãos públicos, aparentemente, tínhamos motivos para comemorar, afinal, 2021 deveria ser melhor do que seu antecessor. Pois é, mas aí, pouco muda. Como em um pesadelo, a vacina não foi encomendada, não temos insumos, não temos doses. Os hospitais públicos permanecem sucateados e não foram reparados. Os profissionais da saúde, apesar de todos os atos heroicos, não foram valorizados e os quadros permanecem os mesmos. Difícil a vida do cidadão. E o que é pior, ouvimos dos políticos que a culpa é da população, afinal, você não se cuidou como deveria e, portanto, tem que pagar por isto. Merece a falta de leitos, a inexistência de equipamentos e, se tiver que morrer em corredores de hospitais, morra, enfim, não se comportou direito. Excelente forma de esconder o completo despreparo do ente público. Se aceitarmos, ou pior, apoiarmos o “fique em casa” por incompetência estatal, tratemos de tornar nossos lares espaços de permanência eterna, porque não sairemos mais. Vejo acusações, mas não vejo ações. O que foi feito pelos governantes neste último ano? Onde foi utilizado o recurso público? Onde estão os novos leitos? Culpar a população é ato ditatorial e expropriatório de responsabilidade. Lembro das ruas desertas no ano passado. Lembro da promessa de pico e que deveríamos permanecer em nossas casas. Lembro que ninguém saía de casa e que isto seria importante para termos “tempo” para nos prepararmos. Pois bem, nada, absolutamente nada, aconteceu. E as pessoas cansaram. Precisam trabalhar, precisam sair de suas casas. Infelizmente, não há cidadão comum que possa viver sem o seu salário. E o mais incrível, aquele que hoje chama o cidadão de irresponsável, ontem passava mensagem de ociosidade hospitalar trazendo pacientes de outros Estados. Como? Estamos lotados ou não? Enfim, dias duros pela frente, em que serviremos de marionetes na mão de políticos que jogam com nossas vidas, de acordo com o seu humor e interesses para as próximas eleições.