Precisamos repensar o tempo gasto com redes sociais, lives, podcasts – carregados de visões prontas, como se passássemos em um drive-thru intelectual, para nos dedicar à boa literatura
Há um ano, iniciávamos mais uma jornada completamente inocentes à enorme transformação que seria imposta às nossas vidas. Como diz o ditado popular “a ignorância é uma bênção”, e uma bênção porque evita o sofrimento antecipado pelo desconhecido e por aquilo sobre o que não temos qualquer controle. A pandemia chegou e mudamos nossas rotinas. No início, para a grande maioria, de forma drástica, depois, adaptada de acordo com as crenças e condições individuais. Independentemente da forma, a transformação foi relevante e tornou-se impossível pensarmos em futuro sem avaliarmos os reflexos deste fato concreto. Nos aspectos pessoais e econômicos, não podemos e sequer conseguiremos ser os mesmos. Não aproveitar o que passamos é desperdiçar todos as dores e os desafios que nos foram impostos. Ter a oportunidade de preencher aquilo que nos faltou trará um prazer ainda maior. Celebrar pelos encontros familiares, amigos, preservação de vidas, saúde, viagens, liberdades individuais, economia forte, enfim, tantas coisas que faziam a nossa “vida normal” tão simples, mas que não dávamos o devido valor. Fomos forçados a repensar e reestruturar. Certamente, como tudo na vida, alguns terão mudanças drásticas, outros, nem tanto, mas no fim, deveríamos refletir sobre a nossa fragilidade e as chances de crescimento. Sobre a falta que nos faz o direito de andar pelas ruas. Sobre a importância de trocar abraços. Sobre a necessidade de estudar, refletir e estabelecer nossas opiniões. Quanto tudo isto é fundamental e quanto perdemos muito nesta caminhada. Somos suscetíveis a influências externas. E necessitamos alimentar diariamente nossa capacidade intelectual, caso contrário, seremos marionetes do sistema. Em tempos de velocidade, precisamos repensar o tempo gasto com redes sociais, lives, podcasts – carregados de visões prontas, como se passássemos em um drive-thru intelectual, para nos dedicar à boa literatura, capaz de nos tornar protagonistas das nossas próprias ideias. Enfim, que possamos cada vez mais construir opiniões e cada vez menos pegá-las emprestadas.